o capitão jamais admitiria. "no meu tempo não era assim..." mas o fato é que se fôssemos imaginar uma versão feminina do nosso bucaneiro preferido, ela seria a carmencita. dona do famoso gaiola azul, em dia de pouco movimento ela nos brindava com alguns "recuerdos", em seu portunhol manjado.
reza a lenda que andava às voltas com um adônis. um macho alfa, como dizia. e na noite em que foram ao desfrute, ela teve algumas surpresas. primeiro que o tal moço, de uma grande beleza física e dotes excomunais:
- yo pense que aquilo no ia entrar...
mais tarde, o gajo acabou por lhe confessar que era um auxiliar de funerária. ela começou a imaginar aquelas mãos que lhe cobriam de carinho, também lavavam os corpos gelados.
parece que ele tinha um desempenho digno de filme pornô, tanto vigor e movimento. até que saiu com a pérola:
- ontem tinha uma mulher lá, a pele dela tava da cor desse teu abajur (um amarelo âmbar).
pobrecita da carmencita. mas ela se diverte contando. e a gente com prazer, vai aprendendo.
nós andávamos pelas mesmas tavernas imundas há semanas. ele me gritava de pouco em pouco, seu cão leproso do inferno, ainda permaneces a registrar minhas gabolices no tal de blog (eu às vezes desconfiava que o capitão tinha alguma parte com o tal capitão rodrigo, do veríssimo, pelo sotaque e ainda uma tanto do tal capitão nascimento, esse homem sem alma). mas não. ele era único, feio, maltratado e fedorento.
certo dia entrou no porão escuro um tipo muito estranho, totalmente careca e magro. parou, olhou em volta e gritou:
- ruindomar lepracerta, os lobos do poder ainda não estraçalharam teus ossos?
um silêncio gorduroso escorria pelas paredes:
- bonvivan do bulevard, casca de ferida social, que fazes nessa ilha?
e se puseram a contar vantagens de suas vidas inúteis e imbecis.
lembraram de certa feita, quando um soldado do fogo abandonou a família, consumido pela idéia de estar com algumas pedras, pediu guarida ao capitão e em menos de 15 dias foi flagrado comendo uma travesti e uma epilética...
mas era um travesti epilético apaixonado por um ex-bombeiro?
não, não era. mas o cara não deixava barato. e eles todos boquiabertos se perguntavam: agora é um orgasmo? a perninha ainda tremendo. acho que foi um ataque. a vida é dura companheirada. a vida é dura.

balada do vampiro



cambada de cornolhos rútilos, lúmpens luxuriosos, recomenda o capitão uma visita urgente aos domínios do porta curtas petrobrás, e que assistam sem mais delongas o filme:
"balada do vampiro".
http://www.portacurtas.com.br/index.asp
bota lá o atalho, seu inútil, gritou ele comigo, esparramando gotas do precioso rum pela mesa. tem gente que não tem saco pra procurar no google.
muito bem, meu capitão. toquei a aba do chapéu encardido. lá vai.
o capitão me revelou, entre um naco de uma grande coxa de ovelha e um grunhido de prazer, que nutria uma simpatia incontrolável por mulheres grandes. não essas gordinhas risonhas de boutique tamanho especial, mas aquelas de quem não resta dúvida sobre seu verdadeiro grande prazer. e com que alegria: sugam, engolem, amassam. o calor das cavernas escondidas. os tesouros, o capitão conhecia a vida. eu ouvia.
na fumaça azul dos canos, partiu. um rastro de ódio em mais uma ilha. capitão ruindomar lepracerta. sonhos despedaçados. mais uma mulher. mais um trabalho inútil.
ele já se sabia impossível de conviver. ao menos essa lição já não causava nenhuma amargura na garganta seca. mas então, dessem-lhe vinho ou rum. ou mais um pescoço pra cheirar e arranhar com a barba já começando a ficar grisalha.
dessa vez, entretanto, nem perspectiva havia.
degolou o último cão que lhe olhava com cara de fome.